Uma Maria entre arte e ciência
Esta Maria tinha um sonho: pintar flores. Não as flores dos
jardins das casas, ou dos vasos sobre a mesa da sala. Ela queria pintar flores
que ninguém conhecia. Por isso, atravessou o oceano e foi ao encontro de um país
que tinha uma grande e sinistra floresta escura. Era ali naquela floresta
escura que ela iria encontrar e mostrar ao mundo as flores que até então eram
desconhecidas.
Fez várias expedições a esta grande floresta, entre o ano de
1956 e 1988, em um pequeno barco navegando pelo grande Rio Amazonas e seus
indomáveis afluentes. Enfrentou muitos perigos: como insetos, os índios não
amigos, as doenças, ataques de morcegos vampiros, cobras, entre outros. Mas
nada disso foi obstáculo para aquela Maria de olhos curiosos, cabelo branco e
rebelde, com um sorriso sempre estampado no rosto, de fala macia, muito
franzina, mas, como ela mesma se classificava, muito resistente. Quem com ela
conviveu aposta que ela era um ser mágico.
Sua figura destoava de todos os outros seres da floresta,
pele branquinha, usava sempre calça jeans, camisa de manga longa, às vezes suja
com salpicos de tinta, botas e trazia sempre um chapéu. Ela achava que este era
o traje adequado para enfrentar uma floresta. Usava sempre preso os cabelos
brancos e longos, e um charmoso lacinho verde no lado esquerdo da cabeça que
lhe conferia um toque jovial. Andava carregando sempre com uma bolsinha que
continha um caderno de anotações, um lápis e um estojo de aquarela, além de
pequenos saquinhos de chá, afinal ela nasceu na Inglaterra.
Pintou cada flor que encontrou na floresta, como bióloga e
como artista. Como bióloga ilustrou as flores com todos os detalhes científicos:
números de pétalas, tamanho das folhas e estruturas sexuais. Como artista fez
preciosos estudos de cores e formas e desempenhava com maestria a técnica do
grafite e da aquarela. Seus desenhos leves adquiriam vida própria.
Assim, através dos seus desenhos, foram apresentadas ao
mundo várias espécies de Bromélias Catteya, Clúsia, Heliconias, Orquídeas, muitas
delas hoje em dia extintas. Também denunciou a intervenção desordenada da
atividade humana na floresta. Em seu diário conta com pesar que grandes e vigorosas
árvores eram constantemente derrubadas, e enormes clareiras se abriam
comprometendo o equilíbrio perfeito que havia ali.
Depois de desenhar várias
flores, ela ainda perseguiu por muito tempo o sonho de encontrar, a “Flor da Lua”,
uma espécie de cacto (Selenicereus Witti) que se agarra às árvores, que brinda
os olhos, e a natureza com uma floração noturna e breve. A flor começa a abrir
por volta das oito horas da noite e começa a morrer às quatro horas da manhã, e
quando aberta exala um perfume embriagador. Em sua última expedição pelo Rio
Amazonas, em 1988, ela finalmente encontrou a “Flor da Lua”. Registrou todo o
processo de nascimento e morte daquela fantástica flor. Segundo seus registros,
naquela noite, na floresta, ela tinha por sobre a cabeça o fantástico céu
estrelado do Amazonas, a lua cheia no céu e no chão um tapete de estrelas
refletidas pelas águas do grande rio, e por toda a noite foi embalada pelos sons
dos pássaros. Se sentiu enfeitiçada por aquela flor e pela atmosfera que
reinava na floresta naquela noite de maio. Aos 79 anos de idade, dona de um espirito
eternamente jovem, esta Maria se sentiu uma princesa dentro de um lindo conto
de fada.
Em novembro deste mesmo ano 1988, esta Maria morreu em um
acidente de carro em sua terra natal. Dizem que na noite de sua morte a
Floresta Amazônica, que nunca silencia, fez um minuto de silêncio. Os vagalumes
se apagaram e a lua se escondeu por trás das nuvens no céu.
Esta Maria foi Margareth Mee, uma mulher arrojada para seu
tempo, transitou por culturas completamente diferentes, uniu em seu fantástico
trabalho ciência e arte, enfrentou perigos da floresta em busca de seu sonho de
retratar flores desconhecidas.
Feliz dia das Mulheres.
Comentários
boa quinta, beijinhos
BJ
CRISTINA SÁ
http://cristinasaliteraturainfantile
juvenil.blogspot.com
Bacione
I noticed thread on one of the dresses. This reminded me of a butterfly, sewn upon paper, that has been laying on my desk for so long that I've forgotten about it... I should make her "fly" at last!
Margareth Mee, se fosse viva e visse este seu trabalho sobre ela, ficaria muito orgulhosa e envaidecida.
Fiquei curiosa: você vai publicar este trabalho ou fazer alguma exposição?
Muito oportuno você escolher Margareth Mee para homenagear no Dia das Mulheres, pois ela foi uma das grandes!
Beijos e muito obrigada por seus doces comentários.
Não conhecia a história de Margareth Mee e adorei sabê-la através de vc, com as suas colagens, lindas!!!
Beijos 1000 e uma noite maravilhosa para vc.
www.gosto-disto.com
Desejo a todas as Marias e a vc. um Feliz dia das Mulheres!
Beijos
Audeni
Bjs,
cibele.
Você vai publicar? Já publicou? Começaram as perguntas. rs
bacio
Que lindeza tudo isso. Que escolha perfeita fizestes. Mag Mee foi realmente uma mulher espetacular que dispensa qualquer outro adjetivo.
Aqui, como nesta floresta encantada, se respira ternura e sonhos.
Obrigada.
;)